Final brasileira de campeonato mundial ocorreu Ibirapuera Adrenalina e muita, mas muita concentração. O mundo pode cair e ele nem vai notar. Hora de escolher o motor, as rodas, o aerofólio e todos os acessórios do carro. Um pouco de aquecimento e Gustavo Cardoso, conhecido pelo nick Gux, de apenas 14 anos, está preparado. No dedão da mão direita um calinho, sinal de quem passa horas acelerando no joystick. "Eu só tenho isso, tem um monte de gente com tendinite", diz o rapaz. Ele é o mais jovem entre os 160 melhores gamers do País, que este final estiveram em São Paulo para disputar a final brasileira do World Cyber Games (WCG), o maior campeonato no mundo de jogos eletrônicos. Como Gux, 16 rapazes - apenas uma menina participou do evento - estavam em busca da classificação para participar da final mundial em Monza, na Itália, que ocorre de 18 a 22 de outubro, e do Panamericano na Cidade do México, no México, de 27 a 29 de outubro. Para o menino, não foi desta vez. Mas não tem problema, até porque esta foi sua primeira competição como profissional. Gux é, como uma boa parte, novato na arte de jogar. Descobriu o Need For Speed, uma série de jogos de corrida de carros, há seis meses e já manda bem, pegou o 5º lugar. Perdido mesmo estão as notas do aluno do último ano do ensino fundamental. Matemática: 6,5, a melhor nota na matéria no bimestre. Português: 5,7. "Caiu por causa dos jogos", confessa Gux. Na seqüência, a desculpa. "Quando é campeonato tem de forçar o treino." Aí são seis horas na frente do computador por dia. E se aparece um novo jogo e for legal, ele fica "animado" e são dez horas por dia. Quando não tem campeonato, a média é de quatro horas. Bastante desinibido e fluente entre os participantes, Gux chegou à capital sozinho, vindo de avião. Saiu de Sombrio, em Santa Catarina. Mas seus pais não ficam bravos? "Quando comecei a ganhar, ela deu uma liberada por causa do colégio. Agora, vai forçar a estudar." Ela é Sandra, de 36 anos, empresária que cuida dele e de Caroline, a irmã caçula, de 11. O pai é José Luiz, caminhoneiro, separado de Sandra. A liberação por parte dos pais é bem comum quando o jogo eletrônico é encarado com responsabilidade. Rodrigo Ribeiro Moretz, organizador do evento e gerente de Marketing de Relacionamento da Samsung, a patrocinadora do WCG, diz que é normal ver pais acompanhando os filhos nas competições. "São pessoas (os gamers, como são chamados os jogadores) esclarecidas, que sabem equilibrar a vida entre o jogo, estudos e família", afirma. Ontem, ele viu pelo menos duas famílias de participantes circulando pelo porão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Uma delas estava com André Casagrande Buffo, o Scorpion, de 15 anos, que ontem deixou Adriana, de 38, feliz e preocupada. Ele se classificou pela modalidade do jogo Fifa, competição de futebol e, enquanto se preparava para virar celebridade em Laranjal Paulista, uma cidadezinha no interior de São Paulo, onde mora, a mãe tentava descobrir como fazer para tirar o passaporte do filho. "Não estou acreditando", disse. O são-paulino também começou a jogar no computador, em rede com "amigos" do mundo todo, este ano. Antes, só videogame. São cinco horas na frente do "PC" (computador) por dia, nas semanas que antecederam a competição, chegou a oito. A mãe, microempresária, só descobriu isso durante a entrevista. E soube de mais. O garoto perdeu uma namoradinha por causa dos jogos. Scorpion, que fala inglês, adora história e filosofia, pretende ser advogado. Segundo Adriana, ele vai bem na escola. |