O Supremo Tribunal Federal (STF) adiou nesta sexta-feira (18),
pela quarta vez, o desfecho do julgamento em que a Corte vai
definir se aceita a denúncia do Ministério Público Federal (MPF)
contra o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Ele foi denunciado pela
suposta prática de crime contra o sistema financeiro nacional.
A análise em plenário foi suspensa após um impasse
em plenário, depois de todos os 11 ministros terem votado e
formado uma maioria de 6 votos a 5 pela aceitação da denúncia,
que se refere à época em que Raupp era governador de Rondônia (1995-1999).
Em vez de o presidente do STF, Gilmar Mendes,
proclamar o resultado do julgamento ao final do último voto,
houve defesas veementes em plenário de ministros contrários a
abertura de uma ação penal contra o senador, na esperança de
algum magistrado alterar seu voto inicial.
O ministro Ricardo Lewandowski, então, pediu vista
do processo, mesmo com o placar já definido. No entanto, após
Marco Aurélio ter sugerido que a suspensão seria uma manobra
para aguardar a volta do ministro Eros Grau - que não participou
da sessão desta sexta - para tentá-lo mudar de opinião,
Lewandowski desistiu do pedido de vista, alegando que não queria
ser colocado sob suspeição.
Alguns colegas favoráveis à rejeição da denúncia
contra Raupp não concordaram em suspender o pedido de vista.
Após discussões acaloradas, indignado, o relator do processo,
Joquim Barbosa, que votou pela aceitação da denúncia, pediu
adiamento do caso. Ele disse não concordar com a postura dos
ministros que, após a formação de uma maioria necessária pela
abertura da ação, quiseram suspender o desfecho do caso.
Agora, a conclusão do julgamento só ocorrerá em 2010, pois o
recesso Judiciário se inicia neste sábado (19). A retomada dos
trabalhos está prevista apenas para fevereiro do ano que vem.
Joaquim Barbosa alega que os constantes adiamentos da decisão
final do STF no caso Valdir Raupp pode levar o caso à prescrição
- o julgamento foi iniciado em abril de 2007. A expectativa é de
que o relator apresente um novo voto, já nas primeiras sessões
de 2010.
De acordo com a denúncia do MPF, Valdir Raupp teria aplicado de
forma irregular parte de recurso obtido por meio de um
empréstimo do Banco Mundial (Bird). Ele nega a acusação. O MPF
alega que o empréstimo de US$ 167 milhões seria destinado à
execução de projetos de gerenciamento de recursos naturais no
Estado, mas, segundo a denúncia, o então governador teria
permitido a transferência de parte do dinheiro para o Tesouro
Estadual e para a Secretaria de Fazenda, com o objetivo de pagar
despesas de outra natureza contraídas pelo governo.
?É indiscutível, e os denunciados não negam, a
aplicação dos recursos em finalidade diversa daquela explicitada
pelo convênio firmado pelo hoje senador Valdir Raupp?, destacou
o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no julgamento
iniciado em 2007, quando ele ainda exercia a função de vice-procurador.
É indiscutível, e os denunciados não negam, a aplicação dos recursos em finalidade diversa daquela explicitada pelo convênio firmado pelo hoje senador Valdir Raupp"
Em entrevista ao G1 em julho de 2007, Valdir
Raupp disse que parte do dinheiro do convênio foi usado como
empréstimo para quitar a folha de pagamento dos servidores
públicos do Estado. Ele garante que o valor foi devolvido e que
o convênio não foi prejudicado.
Julgamento
O julgamento foi iniciado em abril de 2007, quando o ministro
Gilmar Mendes, atual presidente do STF, pediu vista do processo,
alegando precisar de mais tempo para analisar o caso. Na época,
a sessão foi suspensa com o placar de seis votos a zero a favor
da abertura da ação penal. No entanto, dois ministros alteraram
nesta semana seus votos proferidos há mais de dois anos.
Em 2007, além do relator do caso, Joaquim Barbosa,
os ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau,
Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso haviam votado pelo
recebimento da denúncia.
Na volta do julgamento, em fevereiro de 2009,
Gilmar Mendes se posicionou contra a abertura da ação penal. Ele
defendeu que não há clareza na denúncia encaminhada pelo MPF,
para justificar seu voto contrário ao dos demais colegas. ?A
relação de causa e feito entre a conduta do paciente e o desvio
de recursos não está nada clara. Não há qualquer prática de
crime pelo mesmo [Raupp]?, disse, na ocasião.
Depois do voto de Mendes, porém, o ministro Carlos
Alberto Menezes Direito pediu vista do processo, paralisando
mais uma vez o julgamento. No entanto, após a morte de Direito,
no começo de setembro, o caso passou para o ministro José
Antonio Dias Toffoli, que o substituiu no Supremo.
Mudança de votos
Nesta quinta-feira (17), o julgamento foi retomado com o voto de
Toffoli, que rejeitou a denúncia do MPF contra o senador. Na
sequência, Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso pediram para
reconsiderar seus votos iniciais. Ambos justificaram que houve
de fato o desvio de finalidade dos recursos, mas que tal fato
não justificaria a ação penal.
Ainda na quinta, Ellen Gracie votou contra a
aceitação da denúncia e Marco Aurélio Mello pela abertura de
ação penal contra Valdir Raupp. Os votos levaram a análise a um
empate de 5 votos a 5, já que o ministro Celso de Mello não
compareceu à sessão de ontem.
O julgamento foi retomado na manhã desta
sexta-feira (18), com o voto de Celso de Mello, que entendeu
haver elementos suficientes na peça acusatória que justificam a
abertura da ação contra Raupp. Assim, formou-se o placar de 6 a
5 contra Raupp. No entanto, de forma inesperada o caso foi
interrompido, sem a proclamãção do resultado.
G1