O escritor peruano Mario Vargas Llosa afirmou que seu colega uruguaio Juan Carlos Onetti é o "primeiro escritor em língua espanhola a fazer uma literatura absolutamente moderna", tanto "por sua técnica narrativa" como por sua construção de uma "prosa desligada da tradicional".
Em entrevista com a revista Ñ, Vargas Llosa, que acaba de concluir um ensaio sobre Onetti -- "El viaje a la ficción" --, inscreve a produção do uruguaio em uma primeira linha iniciada por narradores centrais da primeira metade do século XX, de Louis-Ferdinand Celine e James Joyce a William Faulkner, este último de influência decisiva na criação de atmosferas, cidades ficcionais e personagens.
No âmbito da literatura latino-americana, o autor de "Conversa na Catedral" destaca as impressões deixadas pelo argentino Robert Arlt em Onetti, em especial, em "certa visão apocalíptica" da vida e do mundo.
Vargas Llosa enfatiza que o autor de "Para una tumba sin nombre" inventa desde suas primeiras narrativas "uma prosa a partir de uma linguagem oral, que simula a oralidade", mas também avança na textualidade `onettiana`, citando como exemplos contos como "El infierno tan temido" e "Un sueño realizado", pequenas obras que, segundo ele, sintetizam sua posição diante das relações humanas.
O ensaio, resultado de um curso sobre o escritor uruguaio ministrado por Vargas Llosa nos Estados Unidos, busca na visão do mundo de Onetti uma visão muito negativa da condição humana, das relações humanas.
Precisamente, esse estudo permite que o ensaísta recorra toda a problemática onettiana, desde sua mencionada inserção na narrativa de seu tempo a temas pessoais e até existenciais, e inclusive expõe seus pontos de vista sobre as teorias psicologistas e feministas.
Ansa