Quinta-feira, em Londres, na reunião do G-20, Obama disse que Lula era ?o cara?. O afago ao colega brasileiro foi simpático, mas todos ali, inclusive o próprio presidente americano, sabem quem é de fato ?o cara? que carrega nas costas o peso de colocar a casa em ordem ? a dele e a dos colegas.
A eleição do primeiro negro para liderar a maior potência econômica e militar do mundo foi um fenômeno midiático sem precedentes. E, como costuma ocorrer em momentos emblemáticos da história, a Obamamania encontrou ressonância na indústria cultural. A figura do presidente americano rompeu a esfera da política. Obama é uma estrela pop, uma marca à qual todos querem estar associados, tanto para mostrar que escolheram o ?lado certo?, quanto, logicamente, para faturar.
Publicado em 14 de janeiro nos EUA, seis dias antes da posse de Obama, o gibi em que o Homem-Aranha impede que um de seus inimigos sabote a cerimônia se tornou a HQ de super-herói mais vendida deste século ? foi lançada
no Brasil no final de
março. O cartaz criado pelo artista gráfico Shepard Fairey, que estilizou fotos de Obama com as palavras ?Hope? (?Esperança?) e ?Progress? (?Progresso?), virou mania na internet ? no site www.obamiconme.com é possível fazer uma versão personalizada.
Executivos de Hollywood reabilitaram o termo alemão ?zeitgeist? (?espírito de um tempo?), conceito que costuma ser usado em análises comportamentais, para ajustar suas produções ao clima de esperança e de tolerância racial, cultural e religiosa que chegam com Obama ? ele é filho de pai negro africano e de mãe branca e americana e estudou, na infância, em escola muçulmana na Indonésia.
Carlton Cuse, produtor de Lost, já disse que Obama será responsável por levar o enigmático seriado para um desfecho menos sombrio, alegando que o programa até então refletia o clima de medo e guerra imposto pela era Bush. James L. Brooks, produtor de Os Simpsons, pretende convencer Obama a participar da série, emprestando a voz em um episódio.
Seria o primeiro
presidente americano a aceitar o convite. Os criadores do seriado Desperate Housewives queriam o próprio Obama fazendo uma ponta.
A imprensa americana enfatiza que, cinco meses depois da eleição, Obama e a indústria cultural vivem uma lua-de-mel ainda sem prazo de validade para terminar Até os humoristas estão contidos, pois pegar pesado com o dono de tamanha popularidade, por agora, é dar um tiro no pé. O presidente figura nos roteiros de seriados cômicos como The Office e 30 Rock, sempre com referências simpáticas. No politicamente incorreto desenho animado South Park, Obama apareceu primeiro em campanha e agora surge com os discursos que acendem a esperança dos liberais do pedaço. Mas em um episódio recente, sobre um cartaz de Obama pregando ?É tempo de mudanças na América?, um gaiato pichou: ?Quando??.
Zero Hora