Jô Amado, jornalista e um dos fundadores da Sosaci, diz que o perneta é ?dentre todos os mitos e lendas do nosso folclore, a essência da brasilidade?. Isso porque ele integra as diversas raízes do povo brasileiro - a indígena, africana e européia. ?O mito do saci nasceu entre os indígenas da região de Missões. Era, então, um curumim meio endiabrado, mas tinha duas pernas e um rabo. Era de cor morena, como os indígenas?, diz Amado.
?Quando o mito entrou em contato com a mitologia africana, ele virou um negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira e herdou também dos costumes africanos o inseparável pito?, disserta. E, finalmente ele encontra a mitologia européia, quando herda o gorrinho vermelho chamado píleo, que os romanos davam aos escravos libertos. ?Portanto, o saci também é símbolo do Homem Livre, o que tem tudo a ver com resistência cultural?, afirma Amado.
Não é de hoje que se utiliza o folclore brasileiro como parte da afirmação de identidade nacional. No dia 28 de janeiro de 1917, Monteiro Lobato abriu um inquérito na edição vespertina do jornal O Estado de S. Paulo. Três perguntas eram feitas aos leitores: ?sua concepção pessoal de saci?, ?a forma atual da crendice na zona em que reside? e ?histórias e casos interessantes? a seu respeito.
A história dessa investigação é contada no livro Monteiro Lobato - Furacão na Botocúndia, Prêmio Jabuti de 1998 na categoria ensaio e biografia e eleito Livro do Ano de 1998 pela Câmara Brasileira do Livro. Monteiro Lobato, por meio da divulgação e valorização da figura do saci, põe à prova a elite brasileira que, em sua concepção, macaqueava a cultura francesa, como a Sosaci diz que se faz agora com o Halloween.
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